"O que puder eu faço para que não deixem de estudar", diz um orgulhoso José Orlando Balbino, de 47 anos, que há 15 dias assistiu a formatura do filho no ensino superior. Mesmo com a seca dificultando há dois anos a vida na zona rural de Caicó, na região Seridó do Rio Grande do norte, o agricultor fez um esforço extra. Vendeu duas novilhas que ganhou do patrão, juntou com um dinheiro guardado e comprou o anel de formado do filho. O presente custou R$ 900 e a renda mensal da família é de R$ 600. "Foi gratificante", resume Balbino.
Analfabeto, o agricultor nunca esteve em uma sala de aula, futuro que não quis repetido com a família. "Comecei a trabalhar com oito anos de idade. No meu próximo aniversário completo 40 anos de trabalho", brinca o agricultor, que mora e trabalha no sítio Umari, a 25 quilômetros do centro de Caicó.
Formado em Educação Física na Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN), o filho do agricultor, Cleidson Dantas Balbino, de 24 anos, lembra que o pai nunca o deixou fazer trabalho braçal. José Orlando confirma a história. "Não era por mal, mas tinha medo de atrapalhar os estudos. É tudo que eu posso deixar para os meus filhos. Com o feijão na mesa a gente vai levando ", afirma Balbino, que deve ter uma nova formatura para participar em breve. A filha mais nova cursa Letras/Inglês, também na UERN.
Para estudar, os dois filhos de José Orlando foram morar em Pau dos Ferros, cidade de região Oeste onde fica o campus universitário. "Era um sonho do meu pai. Lembro que um dia vi ele falando de como queria que estudássemos para termos um futuro melhor e aquilo me marcou", explica Cleidson, que diz nunca ter pedido o anel de formatura ao pai. "Ele insistiu, se organizou como deu e comprou", conta.
Mesmo com a dificuldade para conseguir livros para estudar, ele e a irmã passaram no vestibular. Com os dois morando em Pau dos Ferros, José Orlando e a mulher, Maria das Graças Dantas, se viraram como puderam para enviar dinheiro para os filhos. "A gente pegava os R$ 150 que tiramos por semana, fazíamos a feira com R$ 90, juntávamos o que sobrava e dava para enviar R$ 240 por mês para eles. Ter um pouco de comida na mesa já é bom", conta Maria das Graças.
Enquanto moravam e estudavam em Pau dos Ferros, os dois irmãos, segundo Cleidson, fizeram uma espécie de pacto. "Vamos estudar e proporcionar uma vida melhor para nossa família", revela o recém formado educador físico.
Do G1 / Via Blog Umarizal em Fotos
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