semanas antes do primeiro turno das eleições gerais, em que Luiz Inácio Lula da
Silva seria reeleito.
“Há coisas mais importantes a serem discutidas e, adicionalmente, as
investigações, que entram quase automaticamente na pauta das reuniões do
Comitê Executivo, não revelaram nada relevante até o momento”, argumentou
ao pessoal da embaixada dos EUA em Paris o embaixador brasileiro, Luiz Filipe
de Macedo Soares.
O embaixador disse que a “inquisição” sobre a representação em Brasília estava
gerando um clima de “ansiedade geral”, dando a entender que havia algo errado, o
que não era o caso. Argumentou que levantar essa poeira arranha a imagem da
Unesco no Brasil e espalha “pequenas doses de veneno” que danificam a
reputação e credibilidade de instituições públicas e privadas, referindo-se ao
Ministério da Educação e à TV Globo, conclui a embaixada em Paris.
A Globo é mencionada por causa do Criança Esperança, ONG para a qual
emissora teria arrecadado cerca de 40 milhões de dólares desde 1986, ou seja,
em 20 anos. A Unesco teria ficado com 10% desse montante,
por conta de uma “taxa de serviço”.
Os telegramas não alegam irregularidade nisso. Apenas citam montantes, como
este outro: “É válido notar que um terço da verba extra-orçamentária da Unesco
(cerca de 124 milhões de dólares) passa pelos cofres do escritório brasileiro”.
A visita do embaixador brasileiro pode ter sido um tiro pela culatra, conclui a
embaixada. “Em vez da receptividade esperada por ele, seus comentários nos
deram mais moviots para questionar a posição do diretor-geral sobre a situação
no Brasil”.
Um documento do início daquele ano revela que a chefia da Unesco falava em
ponderação ao debater os assuntos brasilienses. Um representante do diretor-geral
defendeu uma “estratégia de transição para permitir uma transferência
progressiva das atividades dos projetos em questão”, a fim de “não interromper
projetos de impacto nacional”.
Não se pode afirmar, no entanto, que o “tiro pela culatra” se refere especificamente
a isso. Nos documentos vazados pelo Wikileaks sobre esse assunto, há um vácuo
entre abril e setembro.
O que procuramos fazer aqui foi identificar os pontos mais relevantes dos
telegramas e entender o que se passava. Uma coisa é certa. Os americanos em
Paris estavam impressionados com os relatos sobre irregularidades em Brasília e
a cúpula da Unesco estava preocupada em não criar embaraços com o governo
brasileiro.
Viagens e suspeitas
O governo brasileiro, pelo jeito, jogou para ganhar. A ponto de John Parsons,
diretor do que seria a corregedoria interna da Unesco, ter ameaçado abandonar
seu posto tamanha a campanha de difamação promovida contra ele, segundo
Outra atitude de Brasília foi vetar o nome do americano Richard Goughnour,
indicado por Matsuura, para assumir o escritório na capital federal. Segundo a
embaixada em Paris, foi uma medida “muito inusitada”.
Inusitados também são os números referentes a missões internacionais do
escritório da Unesco em Brasília.
Em menos de um ano, o escritório teria empenhado 60 milhões de dólares em
30 mil viagens – o que daria cerca de 80 por dia – e cancelado nada menos que mil
viagens por mês.
A agência responsável teria sido escolhida sem licitação e pedidos de abertura de
concorrência estariam sendo ignorados desde 2001, apesar de recomendações
“insistentes” do auditor. Parsons aí levantou a hipótese de “lavagem de dinheiro”,
O assunto começou a ganhar corpo com o telegrama de 26 de setembro de
2006, intitulado “Novas informações alarmantes sobre a sede da Unesco em
Brasília”, que cita John Parsons, “em off”, como fonte das informações e pede que
seu nome seja protegido. O nome de Parsons também aparece no documento
que informa sobre a ação penal em curso. Foi ele quem entregou à Embaixada
dos EUA em Paris a cópia da carta endereçada ao diretor-geral, “demonstrando
mais uma vez disposição de se arriscar para trabalhar próximo a nós (fecha aspas).
Agora as aflições do auditor não são mais segredo e tudo que a diplomacia
americana conjecturou sobre esse tema está “em on”, aqui na Pública, graças ao
Wikileaks.
A representação da Unesco em Brasília disse que não se manifesta sobre
documentos não oficiais e que todas as suas ações no Brasil estão amparadas na
lesgislação. A Unesco se recusa a informar quanto recebe do governo.
Os documentos são parte de 2.500 relatórios diplomáticos referentes ao Brasil ainda
inéditos, que foram analisados por 15 jornalistas independentes e estão sendo
publicados nesta semana pela agência Pública.
Fonte: http://www.apublica.org
Nota da Rede Globo
Em uma nota divulgada no dia 8 de junho de 2011 para esclarecer rumores
sobre possíveis benefícios fiscais que a emissora teria com a campanha, a
Rede Globo informou que nenhuma doação do Criança Esperança passa pela
emissora. De acordo com dados da própria emissora, já foram arrecadados mais
de R$ 270 milhões até a última campanha.
Procurada pela reportagem, a emissora carioca respondeu, em nota, que
“desconhece os documentos citados [do WikiLeaks]”, e informa que a parceria com
a Unesco, que não traz nenhuma cláusula referente a pagamento de “taxa de
serviço”, teve início apenas em 2004.
Fonte: Anonymous Brasil / Via Blog Joceilma Arte Cultural
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