A prova dos 200m dos Jogos Olímpicos do Rio, realizada no dia 17 de agosto de 2016, no Engenhão, e que terminou com mais uma vitória do jamaicano Usain Bolt, foi marcante para os presentes no local. Porém, uma pessoa viveu um momento ainda mais especial. O catador de lixo Isaque Santos Francisco entrou em um estádio pela primeira vez na vida. Tudo graças a uma boa ação de um bombeiro potiguar.
Na capital carioca desde março para trabalhar pela Força Nacional na segurança dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, o soldado Gildson Canuto, de 35 anos - que atua no Grupamento de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Norte - resolveu aproveitar o dia de folga para ir ao Engenhão acompanhar a competição. Inicialmente a companhia dele seriam apenas amigos da Força Nacional, mas um imprevisto acabou mudando tudo.
"Um dos militares da Força Nacional que iria para o evento acabou tendo outro compromisso e não teve como ir e me deu o ingresso para que eu pudesse utiliza-lo da melhor maneira”, recorda Gildson. A ideia inicial seria encontrar algum outro integrante da Força Nacional que não tivesse ingresso nos arredores do estádio, entretanto a situação mudou quando Canuto viu uma cena que chamou atenção. “Quando estava chegando ao estádio, vi uma pessoa agachada filmando um catador de lixo. Quando me aproximei, escutei a história dele. Ele falando que tinha muita vontade de assistir o Usain Bolt”, relembrou o soldado.
O homem agachado era um jornalista francês e o catador de lixo era Isaque Santos Francisco, que nem imaginava que aquela noite teria um destino bem diferente do que as costumeiras voltas para casa após mais um dia de trabalho nas ruas.
Acompanhado dos militares da Força Nacional, entre eles a capitã do Corpo de Bombeiros do Tocantins, Daniela Tavares, o soldado Gildson Canuto não teve dúvidas do que deveria fazer. “Disse para a Daniela que deveríamos dar os ingressos para ele (Isaque). Ela aceitou e então entregamos. O Isaque parecia nem acreditar no que estava acontecendo”, afirmou o bombeiro do Rio Grande do Norte.
Inicialmente, a preocupação de Isaque era onde ele iria deixar o saco com os produtos que havia conseguido naquele dia. Após algumas recusas, uma senhora que mora nas redondezas do Engenhão, tocada com a história, aceitou guardar tudo. Depois disso, veio outro momento difícil: o preconceito.
“A ideia era entregar o ingresso e deixar o Isaque seguir sozinho. Mas logo percebemos que ele não conseguiria, então decidimos acompanha-lo até dentro do estádio. No caminho, percebemos que as pessoas estranharam a presença do Isaque. Algumas perguntavam o que ele estava fazendo ali. Nós respondíamos que ele tinha ingresso e que iria assistir as provas. No final, conseguimos entrar sem maiores problemas”.
A emoção de Isaque durante a prova foi toda registrada em vídeo, feito pelo próprio bombeiro. As imagens, inclusive, foram destaques em um dos programas esportivos de maior audiência do Brasil no último domingo. Apesar de repercussão positiva e dos ‘momentos de fama’, o soldado Canuto espera apenas que o gesto motive a ajuda entre as pessoas.
“Recebi muitas mensagens de amigos e familiares elogiando o gesto. Eu sabia que aquela atitude não iria mudar a vida do Isaque, mas sei que naquela noite fiz o que eu podia para que ele tivesse aquele momento de alegria e realizar o sonho de assistir o Bolt. Que isso sirva de exemplo para que as pessoas se ajudem, seja com palavras ou com gestos”.
Via Icém Caraúbas
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