Sou poeta e sou matuto
Sou matuto e sou vaqueiro
Sou também bicho do mato
Camponês e violeiro
Brocoió e aboiador
Sou o nordeste doutor
Sou cidadão brasileiro
Sou Chico, Manoel e João
Sebastião e Canindé
Sou Noca Primo de Dão
Meu apelido é Dedé
Sou a cara do Nordeste
Matuto, cabra da peste
Meu nome também é Zé
Sou Maria lavadeira
Sou Chica de Mané fulô
Sou Francisco de Tereza
Ana de Manoel Totô
Que anda pra estudar
Duas léguas, mais vai lá
E aprende com muito amor
Sou Bastião de Ritinha
Pessoa nobre gentil
Sou facão de corta cana
De um povo que vale mil
Sou enxada de matuto
Que corta meu sertão bruto
Pra viver nesse Brasil
Sou a cara da senhora
Com a cara do passado
Que viu a fome devorando
Devorando o seu roçado
E maltratando a criança
E seu pai sem esperança
De esperar ficou cansado
Sou a cara desse povo
Que quer vida, meu irmão
Que quer um taco de terra
Que quer um taco de pão
Que quer uma mão amiga
Não um coice na barriga
Em época de eleição
Sou isso tudo meu povo
Sou sertão de lado a lado
Eu sou inverno fartoso
Sou um rio nado a nado
Sou vida de camponês
Sou vaqueiro chamando a rês
Sou essa vida de gado
Sou um prato de canjica
Sou fogueira de São João
Sou casca de macambira
Sou bico de gavião
Sou o cantar do peru
Fazendo, gulu gugu
Passando as asas no chão
Sou a cara da pobreza
Sou o sonho da criança
Sou a poesia caduca
Que numa rede balança
Sou um povo varonil
Que mora nesse Brasil
E vive de esperança
(Lalauzinho de Lalau)
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