terça-feira, 13 de junho de 2017

"Situação de Temer na presidência é insustentável", afirma Bresser-Pereira

O ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira é enfático ao analisar o cenário político e econômico do país, e frisa sem pestanejar que a situação do presidente Michel Temer (PMDB) no poder é insustentável. Para ele, o peemedebista não terá condições de aprovar as reformas, e muito menos tirar o país da crise econômica. "Ele é a crise, inclusive", disparou.

O economista de 83 anos, auto declarado social democrata, falou com exclusividade ao Jornal do Brasil nesta sexta-feira (9), antes da conclusão da votação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) da chapa Dilma-Temer.

Bresser foi ministro por três vezes, duas durante o governo Fernando Henrique Cardoso, no qual ocupou o Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado (1995-1998) e o Ministério da Ciência e Tecnologia (1999). Foi ainda ministro da Fazenda (1987), durante o governo Sarney, no qual implementou o Plano Bresser. O economista presidiu o Banco do Estado de São Paulo e foi secretário da Casa Civil, durante o governo de André Franco Montoro.

Advogado, economista, professor emérito da FGV-SP e livre-docente da Universidade de São Paulo (USP), Bresser-Pereira foi um dos fundadores do PSDB, em 1988. Desligou-se da legenda em 2011, e hoje, defende que o "PSDB virou um partido de centro-direita liberal". "Portanto, eu não tenho nenhuma identificação com o partido", acrescentou.

JB - Diante da crise, os tucanos devem desembarcar do governo Temer?

Bresser-Pereira - Não pertenço mais ao PSDB. Fui fundador do partido, mas há muito tempo que eu saí. O PSDB virou um partido de centro-direita liberal. Portanto, eu não tenho nenhuma identificação com o partido. Isso é um problema deles, e dos seus eleitores. É um partido que participou do golpe de estado contra a presidente Dilma Roussef (PT).

JB - Como o senhor vê a permanência de Michel Temer na presidência, após as acusações contra ele?

Bresser-Pereira - Não é sustentável. O escândalo que ele entrou foi muito grande, não há dúvida do envolvimento dele com corrupção. Não só por causa das delações, mas porque ele confessou duas vezes: primeiro, a conversa que ele teve com o Joesley Batista, e segundo, quando o assessor dele foi preso, Rodrigo Rocha Loures, e ele o defendeu dizendo que era de boa índole e não ia delatá-lo. Quando ele diz isso, ele se entrega. Manter um presidente nessas condições é uma violência contra a nação. Tem padrões mínimos que temos que exigir dos nossos governantes. Eu tinha uma impressão boa do Temer durante anos, e fui obrigado a mudar de ideia.

JB - Com a fragilidade política de Temer, qual a possibilidade dele aprovar as reformas?

Bresser-Pereira - Já foi feita uma reforma que a meu ver é absurda, que é a do Teto de Gastos. Ela não vai se sustentar. Foi uma estratégia de um grupo de oportunistas guiados pelo Temer e pelo [ministro da Fazenda, Henrique] Meirelles, para conseguir o apoio da direita liberal, ou seja, do PSDB. Diminuir o tamanho do estado, quando há uma demanda enorme por despesas na área de saúde e educação, é um absurdo. A reforma da Previdência é necessária e inevitável. Creio que não vai acontecer agora, mas qualquer um que assuma a presidência precisa fazer. Há muitas outras questões, mas essa é uma delas. Quanto à reforma trabalhista, não faz sentido nenhum. Os problemas do Brasil não derivam das leis que protegem o trabalho, derivam do liberalismo econômico, que resultou em taxas de juros extremamente altas. O Brasil é governado por esse regime desde 1990, com uma pequena tentativa de fugir em 2011, com Dilma, porém fracassada. Esse regime inviabiliza o desenvolvimento econômico brasileiro e o condena a ficar para trás.

JB - Qual é a real possibilidade de o presidente Michel Temer tirar o Brasil da crise, com essa fragilidade política?

Bresser-Pereira - Nenhuma possibilidade. Ele é a crise, inclusive. O Brasil está em uma recessão profunda, e isso nos últimos já quase três anos, e semi estagnado desde 1990. E tudo isso tem a ver com o regime de política liberal. Então os liberais e os políticos inventaram a seguinte história: se forem aprovadas as reformas, nós ficaremos nos melhores dos mundos possíveis, e isso é ridículo. O que eles querem é que haja um ajuste fiscal - o desajuste que a Dilma causou é ruim, e é preciso corrigir – mas simplesmente isso não garante a retomada do crescimento econômico. Durante 11 anos, de 1999 a 2010, ou seja, o segundo governo do FHC e os dois do Lula, cumpriram as metas fiscais, e nós entramos no melhor dos mundos possíveis?

JB - O senhor não vê diferenças entre os governos de Lula e FHC?

Bresser-Pereira - O governo Lula era mais social do que o de FHC. A grande diferença dos governos é que o Lula teve uma política externa muito mais independente e teve, portanto, uma decisão mais nacionalista, o que o FHC não tinha. Naquela época, o governo FHC ajudou a montar o estado de bem estar social, e agora o partido dele está tentando destruir isso.

JB - Se Temer cair, o senhor defende eleições diretas ou indiretas?

Bresser-Pereira - Ele não vai cair. Mas se fosse, eu defenderia eleições indiretas caso houvesse um acordo, sugerido há algumas semanas, entre o PSDB e o PT, onde FHC e Lula acordaram que o novo presidente não tocaria as reformas, ou seja, seria um governo neutro para comandar as eleições do ano que vem, que estão próximas. Mas esse tipo de acordo não prosperou. Então não acontecendo, o governo que ficar aí substituindo Temer vai ser tão ilegítimo quanto esse. Nesse caso, eu prefiro eleição direta. Agora, o ideal seriam eleições diretas agora, antecipando as eleições gerais que ocorreriam no ano que vem.

JB - Como o senhor analisa a troca do procurador-geral da República e a mudança no comando do Ministério da Justiça? Como isso pode afetar a Lava Jato?

Bresser-Pereira - A Lava Jato hoje não é um ativo do Brasil, é um passivo. Ela foi um ativo quando ela descobriu, julgou e condenou uma série de pessoas obviamente corruptas. Mas, aos poucos, ela foi se tornando um processo de violência contra o direito de pessoas políticas. Esse tipo de salvação moral do Brasil, não é uma salvação, e está violentando os direitos bases das pessoas. Isso é muito grave. Se o presidente continuar, ele tem direito de escolher quem quiser na lista tríplice da procuradoria. É claro que ele vai tentar se defender de todas as maneiras possíveis.

Fonte: Rebeca Letieri/Jornal do Brasil Via Messias Online

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