domingo, 10 de agosto de 2014

"Não acho que a volta de Eurico seria boa"

Adriano AbreuUm dos maiores ídolos da história do Vasco e do Lyon/FRA, o “Reizinho” fala sobre a atual situação do futebol brasileiro depois da Copa do Mundo 
Um dos maiores ídolos da história do Vasco e do Lyon/FRA, o “Reizinho” fala sobre a atual situação do futebol brasileiro depois da Copa do Mundo

Juninho Pernambucano sempre foi um jogador que se destacou, não só por sua qualidade dentro de campo, como também por sua postura profissional longe dos gramados. Foi assim por onde passou: Sport/PE, Vasco da Gama/RJ, Lyon/FRA,  Al Gharafa e no New York Red Bull/EUA. Sempre lutando pelas vitórias do seu time, como também por melhores condições de trabalho para o jogador de futebol. Agora como comentarista esportivo, ele esteve em Natal para acompanhar o jogo entre América x Fluminense, pela Copa do Brasil e concedeu uma entrevista a TRIBUNA DO NORTE onde falou sobre a atual situação do futebol brasileiro.

Não se furtou em falar sobre temas como o Bom Senso, a Lei de Responsabilidade Fiscal para os clubes, a situação atual do Vasco da Gama e o fiasco da seleção na Copa do Mundo, que culminou na volta de Dunga ao comando da seleção.

Bom Senso

Nunca fui um membro atuante, mas, eles tem o meu total apoio. Nunca fiz o que o Paulo André (ex-Corinthians), Dida (Inter/RS), Juan (Inter/RS), Alex (Coritiba), fizeram. Eles são os cabeças. Na época em que o Bom Senso foi criado, eu ainda jogava futebol e fui de acordo. Acho que a intenção é a melhor possível para tentar melhorar o futebol brasileiro. A maioria desses atletas  jogaram no exterior, conhecem o futebol fora do Brasil e, aqui, não estamos discutindo a qualidade dos jogadores e sim a organização do futebol no nosso país. Não venho participando de perto, mas, pelo que pude ver, eles estão de parabéns pelo que conseguiram em Brasil e a esperança é de melhorar, não só para o futebol, como para os atletas e torcedores. Com o tempo, espero que consigamos ter o melhor campeonato de futebol do mundo.

Condições de trabalho

Não são as ideais. Se fala muito sobre a porcentagem de atletas que ganham salários acima, talvez, do mercado internacional, mas não se vê, como um todo a maioria, que não tem esses salários. Espero que, no geral, melhore para os clubes e também para os atletas.

Calendário 2015

É um primeiro passo, essa modificação. O ideal, depois de quatro semanas de férias, é que você tenha o mesmo tempo para se preparar para a temporada que vai se iniciar. Quando eu jogava, cansei de me apresentar no início de janeiro, para depois de 10 dias, estar dentro de campo, jogando, com a obrigação de vencer. Os preparadores físicos vão poder fazer uma preparação diferente, menos arriscada, com um mês de treinos, antes de começar os campeonatos. É até difícil falar sobre isso. O futebol existe há mais de 100 anos e estamos mudando o calendário só agora, em 2015. A preparação, não sendo bem feita, ela prejudica também, o espetáculo.

Vida de comentarista

Sou muito crítico agora, por ter essa nova função. Mas, sei que, quando vejo um jogo que não gosto, sei que a preparação não for a ideal, nessa correira que é o futebol hoje em dia, fica muito difícil de ter uma grande apresentação. Ter um mês de janeiro, que é muito quente, apenas para a preparação, vai facilitar muito para os jogadores e a tendência é de que o nível técnico dos jogos melhore e as contusões nos atletas diminuam.

Lei de Responsabilidade Fiscal
Sou a favor sempre da punição. Alguém tem que assumir sempre que faz alguma coisa errada. Em todos os segmentos da vida, existem punições para quem faz errado e no futebol as coisas sempre correram muito frouxas. Tem muito dinheiro no futebol. Os clubes arrecadam uma parte importantíssima da televisão, dos patrocinadores, e eles tem tudo para que seus orçamentos fossem organizados. Se fala muito que o futebol brasileiro é o mais equilibrado do mundo, porque sempre são 10, 12 clubes com chances de título, diferente das principais ligas européias, mas eu acho sim, que o clube tem que ser punido de alguma fora. Ele precisa apresentar o orçamento, na minha opinião, no início da temporada, conseguir apresentar receita e quanto vai gastar. Se você tem dinheiro, disputa competição, caso não tenha, tem que comprovar que pode honrar seus compromissos durante a temporada.

Dívidas

Dos cinco clubes que mais devem, quatro são do Rio de Janeiro e o outro, se não estou enganado é o Atlético/MG. Alguns conseguiram cumprir os acordos feitos e outros não. Acho que, enquanto os clubes não forem punidos e, indiretamente, os jogadores e torcedores também serão punidos, enquanto não tiver uma organização desse nível, as coisas não vão mudar. Lógico que temos que nos acostumar com as mudanças, mas isso acontece com o tempo, assim como foi com o campeonato de pontos corridos, que antes eu achava o ideal e agora não sei se o Brasil está preparado. Temos condições de apresentar um belo futebol, mas a desorganização dos clubes, os jogadores passam três, quatro meses sem receber salários e isso atrapalha muito.

Críticas aos jogadores

O jogador brasileiro não é profissional como deveria ser. Eles deviam assumir mais as responsabilidades. Mas, a partir do momento em que os clubes forem cobrados, os jogadores também vão ser cobrados de forma mais profissional.

Vasco da Gama

O momento é péssimo, como sempre foi, desde que cheguei ao clube, em 1995, ele vive de brigas políticas. Antigos funcionários, sócios, beneméritos, se acham no direito de governar da forma que bem imaginam. É um clube que tem dívidas astronômicas, que não consegue cumprir suas obrigações, não só com os atletas atuais, como os ex-jogadores. É um clube que tem uma história linda, uma torcida atuante e tem tudo para recuperar, a médio prazo, a volta das grandes conquistas.

Eleição

Politicamente não estou envolvido, porque nunca estive. A minha briga foi fazer o melhor dentro de campo. Não sei do que cada candidato a presidência do Vasco é capaz de fazer. Não conheço o candidato de Edmundo  (ex-jogador do clube), não acho que a volta do Eurico Miranda seria uma boa para o Vasco, com certeza. Não me sinto à vontade para falar de um nome, porque sei que a minha opinião pesa muito. Como não acompanhei o que os candidatos estão pretendendo fazer para ajudar o Vasco, não me sinto, nesse momento, para apontar um nome. Mas, fiquei feliz que a eleição voltou para novembro, porque as coisas serão mais claras, a denúncia de que três mil sócios foram inscritos no clube em apenas dois dias, sendo que, historicamente, o Vasco tem uma média de sete sócios ao mês. O Vasco é um reflexo dos erros de vários anos atrás. Está disputando uma série B, onde não deveria estar.

Dunga

Não posso dizer que ele foi o nome ideal, mas também como não foi. Em 2010 ele fez uma Copa do Mundo corretíssima, muito melhor do que a de agora e antes do Mundial também. Foi um treinador que saiu rapidamente depois de uma eliminação por 2x1, para a Holanda, um resultado normal. Completamente diferente do que acontece nesse ano, em que perdemos por 7x1 para a Alemanha, 3x0 para a Holanda e fomos humilhados como nunca tinha sido. O Dunga merece o apoio, porque foi um jogador que teve história na seleção. Deve ter aprendido com os erros do passado.

Treinador estrangeiro

Fui a favor da contratação de alguém de fora, com uma mentalidade diferente. Ainda temos dificuldade em aceitar que estamos atrás no futebol. Temos esse preconceito.

Choque de realidade

Não deveríamos precisar perder uma Copa do jeito que perdemos. Mas, às vezes as coisas trágicas são importantes para revelar os erros, os caminhos. Desde que inventaram o futebol, o futebol brasileiro deixou de ser respeitado como era. Os 7x1 mostrou, para todos nós, que nosso país continua formando jogadores, mas não somos mais o país do futebol. O talento vai ser sempre fundamental, mas ele não pode estar à frente do trabalho, da organização, da gestão e do profissionalismo.

CBF

A derrota na Copa foi boa para que a CBF pare de pensar apenas na seleção. Ela se preocupa apenas com a seleção, e não do futebol brasileiro. Se fosse o contrário, se ela se ocupasse tão bem do futebol brasileiro de uma forma geral, como da seleção, não seria da forma que foi.

Futuro da Seleção

Dunga vai ter muita dificuldade para fazer as escolhas, porque entramos em um período de muita dificuldade. O Brasil nunca teve tão poucas opções para o ataque, como foi para escolher para o Mundial. O que mais me surpreendeu foi a auto suficiência da comissão técnica que saiu, sem querer aceitar que o Brasil estava, no máximo, próximo dos melhores.

Da Tribuna do Norte / Via Blog Comunicador Efectivo

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